27 agosto 2010

sobre as ruas

As ruas existem porque os homens existem. Talvez contar a história de uma rua seja contar as histórias dos homens, porque as histórias das casas, das lojas, dos mercados, bares, postos, são histórias de pessoas, de gente, que construiu, gente que morou, gente que viveu no lugar e o lugar. Mas a história da rua não pode esquecer daquele que passou o asfalto por ela e escondeu os pedregulhos que estavam ali desde o começo do século passado, daquele que primeiro estendeu um fio elétrico e daquele que passou por ali seguindo o mesmo caminho, mas dessa vez com um fio telefônico, daquele que correu atrás do cachorro fujão, daquele que não conseguiu chegar até o outro lado, daquele que foi à rua ensinar o filho a andar de bicicleta, primeiro com rodinhas, e depois só com o poder da mão, daquele que foi expiar os namorados se beijando, daquele que foi desejar a vizinha mais velha ou o príncipe que passava por ali para pegar o ônibus, todos os dias... A rua é o castelo de ar, território livre, que permite o muro pixado, a janela quebrada, o parapeito da velhinha, com cortina de crochê, a marcação do grande estádio de futebol que revela craques e o jogo de amarelinha, em que o céu é o céu mesmo, mas o inferno é apenas a porta da casa da gente, que se abre para a rua, que é um pouco da casa das pessoas, que muitas vezes ficam mais na rua do que nas casas. A rua é a casa do poste, do gato vira-lata, do andante, do paralelepípedo e do pombo. Então, a rua não é rua somente e é um todo, que faz parte da gente ou a gente é que é um pouco da rua: poeira, asfalto e cinzas, mas pó de estrelas.



O texto acima é do Prof. Benedito Costa Neto, professor do módulo A do Curso de Design Gráfico. Inspirado no projeto integrador do módulo, ele trouxe seu lado escritor para a sala de aula. A imagem acima é do Prof. Costa em andanças pelas ruas da cidade de Curitiba com a profa. Anuschka. Abaixo, ele conversando com amigos.


Vale comentar que o Costa, como é chamado pelos colegas, foi um dos dez autores nacionais a ganhar a Bolsa Funarte de Criação Literária no ano passado. Estamos em ansiosa espera pelo seu livro.

Obrigada pelas palavras, Costa.